Tuesday, March 28, 2006

Soibada

Nenhum caminho vai dar a Soibada. Mesmo a estrada que supostamente chega até lá é cortada por um rio que impede o atravessamento de viaturas em dias mais chuvosos. A professora de português que semanalmente chega de Manatuto fica na aldeia antes do rio para dar as suas aulas a cinco quilómetros do destino que não é. De Manatuto, na costa norte, são três horas de jeep para fazer menos de quarenta quilómetros. A Natarbora, na costa sul, só é possível passar se fizermos duas horas para trás e tomarmos outro caminho para sul.
No entanto, apesar desse isolamento, Soibada é e continua a ser o centro histórico da cultura timorense. Isto apesar das inúmeras vicissitudes por que passou ao longo da história. A expulsão dos Jesuítas no tempo Marquês de Pombal, as perseguições à Igreja na sequência do liberalismo e da República, as guerras com holandeses, australianos, japoneses e indonésios, e o esquecimento estranho de muitas cooperações. Foi ali que esteve a primeira escola superior de Timor até ao fim da Segunda Guerra Mundial com um seminário e uma escola de formação de professores/catequistas. Em 2004 o Governo de Timor teve a possibilidade de celebrar o centenário daquele centro histórico da cultura timorense e assim se fez a festa e se construíram casas tradicionais de Timor, agora meio esquecidas, para receber por alguns dias o Governo e a Presidência da República de Timor.
Fui até lá no sábado de manhã numa pequena scooter. Até Manatuto a única preocupação foi o controle do combustível que tinha esgotado em Díli. Depois o percurso era mais imprevisto apesar das indicações que fui recebendo aqui e além. De cruzamento em cruzamento a estrada vai piorando e sempre subindo até Lafuliu onde havia casamento e dança. Depois o céu começa a escurecer com as nuvens da tarde e as descidas e subidas tornam-se mais pedregosas e inclinadas. Por fim chega-se ao rio, pede-se ajuda para passar com a motorizada e continua-se por mais uns quilómetros de estrada má até Soibada. Uma Igreja, a casa do padre onde fiquei alojado, um lar em funcionamento para raparigas, um espaço à espera do lar masculino, um espaço largo para futebol e basquetebol, algumas casas dispersas e o Santuário Nacional de Nossa Senhora da Airada no cimo do monte com uma escadaria à moda do Sameiro e uma vista soberba. Subia-a debaixo da simpatia do primeiro guarda-chuva. E foi lá em cima que percebi a diferença do sítio na similitude com a imagem de uma Missão dos Jesuítas no Paraguai. Cânticos magníficos e diferentes dos mais aportuguesados dos templos de Díli, a Igreja cheia, e uma homilia cheia de autoridade, força e sentido político. Depois foram nove horas de sono, um nascer do sol esplêndido, mais uma missa de Domingo, a intenção de um projecto para o lar masculino, uma promessa de aviso para a necessidade de livros e um vislumbre fugidio de mim.

1 Comments:

At 4:12 AM, Blogger Desambientado said...

Umas imagens ajudariam a dar um clima especial ao post.

Muito bonito. Vou acrescentar-te aos meus links da casa.

 

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