Thursday, March 30, 2006

Abandono e Adesão

A Kairos identificou cerca de mil jovens açorianos que estão fora do sistemaescolar. Serão, em termos gerais, perto de quatro por cento dos jovens comidade para estarem no ensino obrigatório mas, se atendermos à incidênciageográfica do fenómeno, certamente chegaríamos à conclusão que esse facto temincidência grave em algumas freguesias.Entretanto, nas instalações universitárias de Angra do Heroísmo, multiplicam-seos cursos de formação ministrados por docentes exteriores à universidade. Sãocursos avançados de estatística e tratamento de dados. São cursos avançados desistemas de informação geográfica. No fundo são cursos que mexem com astecnologias da informação que os docentes tradicionais têm dificuldade deacompanhar e que os discentes sentem necessidade de conseguir. E é assim que osalunos se organizam, pedem uma sala de aula, estabelecem uma propina e solicitama prestação do formador disponível mais qualificado.Aparentemente são dois mundos à parte estes que ocorrem de um lado e outro domuro da Terra Chã. De um lado os alunos potenciais rejeitam um ensino oficialgratuito e obrigatório. Mais ao lado, outros alunos pouco mais velhos preferemnão assistir às aulas tradicionais que lhes são fornecidas pelo ensino públicoe optam por organizar e pagar cursos que lhes são úteis.Será dois mundos à parte? Talvez não. De facto, se procurarmos estabelecer o quehá de comum num e no outro começamos a perceber alguns dos erros do sistema deeducação que existe em Portugal, ao nível do ensino primário, secundário euniversitário. Na verdade de um lado e de outro há jovens e tanto uns como osoutros querem crescer e ter um bom emprego. Uns sentem que aquilo que aprendemnão lhes serve para muito e, não tendo alternativas, optam por abandonar oensino. Os outros também têm a noção do que o que aprendem no ensinotradicional lhes serve de pouco mas já têm capacidade para se organizarem epagarem um ensino mais útil.Deste ponto de vista o que está mal não são os jovens que abandonam o sistema deensino ou os outros que menosprezam o ensino oficial para mobilizarem um ensinoútil. O que está mal é, obviamente, o sistema de ensino que temos, que baseia asua oferta na capacidade limitada de ministrar conhecimentos consideradosinúteis para muitos alunos. É verdade que o Estado tem vindo a estabelecer viasalternativas de ensino com escolas secundárias ou profissionais e com todo otipo de cursos e universidades. Mas esquece-se de que ao lado de cada quadroestá sempre um qualquer vinculado e este está pouco interessado em aprender eministrar os ensinamentos que o aluno procura e prefere repetir a redundânciade compêndios que já estão na internet. Talvez valha a pena a Kairos fazer umoutro estudo. Por exemplo contar as histórias de sucesso dos jovens queabandonaram o sistema de ensino. Talvez essas histórias nos explicitem as boasescolas da vida.

1 Comments:

At 11:03 AM, Blogger Desambientado said...

Essa teoria Tomaz, não resultará do reconhecimento por parte dos jovens da incapacidade governativa? Não acreditam eles serem muito mais eficazes no planeamento de uma carreira do que as insituições públicas? Não estarão eles desesperados por querer acreditar que ensino é sinónimo de empregabilidade?


Tantas questões que se podem colocar...

 

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