Thursday, March 30, 2006

França

O Economist refere a frase de Tocqueville: “A França é o país mais brilhante e perigoso da Europa e o mais qualificado para se tornar objecto de admiração, ódio, compaixão e terror, mas nunca de indiferença”. Se assim for vale a pena perceber o que vai ocorrendo naquele país mesmo que, de cá, o achemos longínquo e desinteressante. Como nos lembram os historiadores é de lá que vêm as revoluções que mudam tudo menos a França, é das ruas de Paris que o movimento Hippy se estrutura nas ideologias de Maio de 68 e de Pol-Pot, e é daqueles cafés que parte o movimento contra a globalização e contra o desenvolvimento da Índia e da China, que é a mesma coisa.
Do que temos a certeza é que a França continuará a ser rica e desenvolvida com mais ou menos jovens desempregados; mas uma eventual revolução pode gerar problemas em muito lado. De facto se a liberalização do mercado de trabalho se verificar, com a passagem da lei que está em contestação, é natural que haja mais empregos menos qualificados. No entanto, se a dita lei não passar e aqueles que estão nas ruas ganharem a sua “luta”, então é muito provável que os empregos não qualificados se reduzam, mas isso não terá muito impacto nos postos de trabalho qualificados que os actuais manifestantes têm acesso. Percebe-se assim a posição dos jovens das Universidades. No fundo estão a lutar contra os jovens que querem emprego menos qualificado provenientes dos arredores das cidades e que há meses se revoltaram incendiando carros e montras. Não é assim estranho que dois terços dos jovens universitários franceses queiram ser funcionários públicos com vínculo para a vida, mas é muito provável que a maior parte dos jovens dos arredores das cidades só desejem um emprego onde possam ver compensada a sua potencial produtividade.
Nesta perspectiva as manifestações destes últimos meses em França não são entre os jovens e o Governo mas sim entre os jovens dos centros das cidades e os jovens da periferia. Até agora o Governo e a polícia colocaram-se no meio mas não é difícil imaginar o dia em que os jovens dos arredores deixem e lançar o fogo aos carros e montras da periferia e optem por invadir as Universidades e Empresas do centro. A fronteira entre o mundo desenvolvido e o mundo subdesenvolvido não está só no Mar Mediterrâneo e na fronteira entre o México e os Estados Unidos. Está também na cerca das cidades europeias. E, das duas uma: ou se fazem políticas de integração interna consequentes e medidas pela globalização que promovam o desenvolvimento dos países mais pobres, ou estamos a manter pequenas barreiras que rapidamente podem ruir. Basta que os países deixem de ter verbas para pagar aos desempregados e tudo estará em causa. Por enquanto há destruição a partir da periferia e manifestação a partir do centro. Mas todos sabem e os governos sabem melhor que a situação tem que mudar apesar de os jovens universitários franceses não quererem. Em Portugal ainda vamos emigrando para outros locais e embora nos expulsem do Canada estamos moldados a integramo-nos em qualquer lado. O drama dos franceses é que só sabem viver em França e nas pequenas Franças insustentáveis que foram criando e vendo cair pelo mundo fora.

1 Comments:

At 2:40 PM, Blogger Desambientado said...

Para marcar presença.

 

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