Sunday, April 02, 2006

Desenvolver é Povoar

Desenvolver é povoar, e povoar é exportar. Pode-se resumir assim a pequena palestra que dei na passada quarta feira no Hotel do Caracol a convite do Clube dos Rotários de Angra. Não sou Rotário e muito provavelmente nunca virei a ser mas a imagem dos rótulos é a imagem das pessoas que os assumem e foi nesse pressuposto que pude dizer: “Se os rotários são vocês então são certamente uma coisa boa!”
Mas voltemos ao tema. Do que sabemos é que ilhas semelhantes do Canal da Mancha, têm cinquenta mil habitantes, quando são geridas por ingleses e cinco mil quando falam francês. As primeiras são desenvolvidas e atraem muitos emigrantes madeirenses. As segundas são subsidiadas e não atraem ninguém. Também conhecemos a história demográfica dos Açores e podemos estimar que teríamos agora meio milhão de habitantes, caso se tivesse mantido o modelo económico dos três primeiros séculos de povoamento e que voltou a aparecer na primeira metade do século XX. No entanto, com a estratégia de despovoamento e emigração do século XVIII e da segunda metade do século XX, a tendência dos Açores é ficar apenas com um pouco mais de cem mil habitantes. De facto é esse o cenário caso desapareçam as transferências públicas provenientes do Estado que nos chegam desde há trinta anos e que pararam artificialmente o ritmo de despovoamento.
Mas para que é que precisamos de mais gente? Duas razões para povoar. A primeira é que o envio de verbas do exterior tende a ser calibrada de acordo com a necessidade de povoar o que eles consideram fronteira. E com menos gente receberemos naturalmente menos verbas até que nos limitem a uma dúzia de faroleiros e umas tantas guarnições do exército; que para a marinha e força aérea o país não tem meios. A outra razão é que o desenvolvimento se faz com pessoas e não apenas com terras bonitas e dinheiro fácil. Basta olhar as ilhas que conhecemos para perceber que, por exemplo, se a Terceira tivesse a população de São Miguel aqui muito mais e mais diversas empresas. A ideia já vem de Adam Smith que disse que o desenvolvimento se faz pela especialização e que a especialização aumenta com a dimensão do mercado.

...e povoar é exportar

O problema é que o mercado das ilhas será sempre pequeno pelo que têm de se especializar e exportar para buscar noutras paragens a dimensão suficiente de mercado para que os seus recursos humanos, materiais e naturais possam ser competitivos. É assim que, paradoxalmente, a diversificação associada ao aumento do mercado local, resulta da especialização em exportações para o mercado global. Se apostarmos na diversificação contra a especialização acabamos por ficar com a pobreza e miséria própria das pequenas economias rurais viradas para si mesmas.
Mas como fazê-lo? Dois casos paradigmáticos. Um: na Base das Lajes temos mil empregados portugueses e a única preocupação dos políticos é que fiquem com direito à reforma sem qualquer preocupação com o emprego futuro. Imaginemos que a nossa estratégia é dar força às potencialidades logística das Lajes não só em termos militares esporádicos pelos mas também em termos regulares para voos civis. Se assim for passa a haver três mil empregos e a população da ilha Terceira cresce de 55 para 70 mil pessoas. Dois: na Ilha do Corvo há 10 pessoas ligadas à pesca. No entanto, com a melhoria do porto e direitos de pesca atribuídos à ilha e não à voracidade de estranhos, o número de pescadores passa para 36 e a população da ilha cresce de 440 para 600. Sabemos como se faz! Basta querer!

1 Comments:

At 10:04 AM, Blogger Desambientado said...

é Isso que fazem os chineses?

 

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