Monday, April 03, 2006

O saber dos formatos que perduram

A mensagem contém uma informação que varia conforme o meio onde corre (McLuhan). Numa conversa de café a mensagem pode passar despercebida mas os supostos direitos de autor podem igualmente ser arrebatados por um qualquer interlocutor. Numa carta manuscrita o seu conteúdo passa da intimidade e posse de quem escreve para a intimidade e propriedade de quem lê. Numa conversa de telefone transferem-se sons ao longo das redes de telecomunicações mas a credibilidade necessária para que esses “ruídos” tenham “música” depende muito da confiança entre o receptor e o emissor. Uma carta impressa e assinada funciona de modo curioso pois tende a criar, a maior parte das vezes, um direito do lado do emissor e uma obrigação do lado do receptor. Já nos faxes é um pouco ao contrário pois é o receptor que fica com o poder do fax que lhe transmite o compromisso do emissor. Mas se já for publicidade o valor da mensagem passa a ser dado apenas pela apetência de quem lê. Por outro lado há novos meios cuja efectividade na transmissão de informação credível e com valor é ainda difícil de perceber: os correios electrónicos, os grunhidos transcritos no Messenger, os conteúdos terapêuticos dos Blogues, a escrita especializadíssima das mensagens de telemóvel, a diversidade de imagens e sons televisivos e por aí fora. O facto é que, naquilo que conta, tudo isto é real e não virtual. Ocorre no espaço e no tempo ou é pelo menos nessas dimensões bem reais que se reflecte e manifesta.
E o que conta, afinal, é o receptor e o emissor cujos formatos de recepção e de emissão são o início e o fim do meio que transporta os dados. Tudo o mais é fio de cobre ou feixe hertziano, fibra óptica ou cabo coaxial, papel ou rádio, televisão ou computador. Muito para além da tecnologia é necessário ir percebendo e ajustando os mecanismos de informação - decisão dos emissores e dos receptores. Os emissores recolhem e recebem dados que tratam e transmitem, fortemente condicionados pelos seus quadros de referência e pelas suas capacidades de emissão. Os receptores recebem os dados tratados e formatados pelos emissores, dão-lhes significados através do seu conhecimento e transformam-nos em decisões e actos tendo em atenção as suas capacidades, o contexto onde actuam e os seus objectivos. Em todo este circuito a preocupação fundamental do emissor é recolher e tratar dados tendo em atenção todas as capacidades da cadeia de valor a jusante: as suas capacidades de transmissão, a capacidade de percepção e de acção dos receptores e, para cada contexto, os seus objectivos alcançáveis. Isto para além da concorrência dos outros emissores que tentam substituir, complementar ou negar a informação que cada emissor vai veiculando.
A experiência dos jornalistas e a cultura dos jornais mais antigos como “a União”, o “Açoriano Oriental” e outros dos Açores, permitem competir e desenvolver com alguma sustentabilidade. Por vezes há limitações atávicas destes títulos antigos, como o facto do Açoriano ser “Oriental” e ter dificuldade em lançar-se para as outras ilhas, ou a característica da União ser um jornal da diocese e da sua tiragem tender a variar proporcionalmente com o número de católicos praticantes. Mas a verdade é que qualquer limitação é também uma potencialidade, dependente da perspectiva de onde é olhada. Na União queremos ser um instrumento evangelização do mundo que reportamos. E complementamo-nos bem com o mais antigo jornal do país.

1 Comments:

At 5:22 AM, Blogger Desambientado said...

Oi.

 

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