Tuesday, December 16, 2008

Até que os desvinculados se revoltem…

A situação económica em Portugal já era grave antes da crise económica e financeira internacional. No entanto, como o combate à crise está a passar pelo aumento dos gastos públicos para salvar bancos e governos, corremos o sério risco de não enfrentar as causas da crise portuguesa e da crise internacional e acabarmos por ficar bastante pior do que poderíamos vir a estar se a verdade fosse perscrutada e enfrentada.
A crise económica portuguesa tem a ver com a falta de produtividade do Estado e com a incapacidade de muitos empresários competirem no mercado global da Europa, da América, da Índia e da China. A crise económica e financeira global é devida ao aumento do preço dos combustíveis que arruinou o sector imobiliário e o sector automóvel, com a crença na economia da sociedade de informação desligada do filtro criterioso e responsabilizável de cada pessoa, e com a falta de regulação coordenada dos preços dos bens e serviços, dos preços do capital e dos preços dos bens imobiliários.
A resolução da crise internacional passa pela criação de cidades mais eficientes, interligadas e concentradas em cada pólo, como já estão a fazer os Holandeses com a ligação por metro entre as principais cidades, aliás como deveriam fazer em Los Angeles, Chicago, Luanda, Grande Lisboa ou Grande Porto, tornando o transporte público efectivamente concorrencial com o transporte privado. Passa também por uma nova regulação das finanças internacionais e certamente, por uma maior regulação interna a cada empresa, se necessário criando mercados internos que responsabilizem cada decisor.
A resolução da crise em Portugal tem de acrescentar àquelas medidas as que têm a ver com a falta de produtividade do Estado e das empresas públicas e a incapacidade dos empresários portugueses em competirem nos mercados globais.
A falta de produtividade do Estado está relacionada com a multidão de trabalhadores – exploradores que nos legaram trinta e tal anos de governos do Bloco Central. São os funcionários das empresas públicas e semi-públicas às quais foram concedidos monopólios como é o caso da TAP, da SATA, da EDP, da EDA e das muitas empresas municipais e nacionais que se foram criando para satisfazer as clientelas laranja e cor-de-rosa. São os funcionários públicos com vínculo laboral nomeadamente aqueles que tem mais capacidade de reivindicação como os profissionais da educação e da saúde. São, finalmente, os ex-políticos que vão recebendo as pensões vitalícias dos tempos de submissão que passaram por parlamentos e gabinetes. São trabalhadores – exploradores porque literalmente exploram todos os outros cidadãos. Na verdade não é nenhuma entidade capitalista que lucra com as concessões monopolísticas desajustadas; quem lucra com as concessões monopolistas são quase sempre os trabalhadores – exploradores que aí são vinculados: - são os funcionários vinculados da TAP, da SATA, da EDP, da EDA que impedem medidas de boa gestão ameaçando greves, são eles também que se opõem à reestruturação do sector e da empresa, são finalmente eles que pouco fazem para defender as centenas e milhares de tarefeiros que são facilmente despedidos embora possam produzir mais. São os funcionários vinculados das empresas municipais que dificultam uma melhor gestão da água, do saneamento básico e dos resíduos sólidos. São os muitos vinculados da função pública que impedem uma gestão eficiente da educação e da saúde ao mesmo tempo que não se importam com o desemprego dos muitos especialistas que ficam incapazes de exercer a sua profissão.
O drama é que os trabalhadores – exploradores têm muitos votos. Até que os desvinculados se revoltem como já está a acontecer na Grécia.

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