Friday, October 10, 2008

A Força da Água

O Partido Socialista está a perder votos todos os dias na Ilha Terceira devido aos cortes sucessivos no abastecimento de água que denunciam a inadequação da política seguida ao longo dos último anos quer de âmbito municipal quer de âmbito regional. Nas outras áreas da governação os sucessos também não são por aí além pelo menos para esta ilha do meio e é por isso que toda a gente começa a hesitar entre a abstenção e um voto num partido que tenha tido menos responsabilidades governamentais. A verdade é que há muitos para escolher e desta vez os votos nos partidos mais pequenos não são perdidos por virtude da existência do círculo regional.
Na verdade, se os povos fossem racionais votariam contra o Partido Socialista na Ilha Terceira e contra o George Bush na América. Os primeiros forçam artificialmente a centralidade de São Miguel por intermédio das empresas monopolistas que controlam nomeadamente a SATA e a EDA e, ainda por cima, enchem as ilhas de obras inúteis deixando para segundo plano aquelas que deveriam ser feitas como acontece com o essencial abastecimento de água. Os segundos levam cinco anos a perceber um pouco melhor a forma de encarar a guerra no Iraque e ainda não entenderam que a raiz da crise americana está na desvalorização efectiva de muitas casas por virtude do aumento galopante do custo de transportes em cidades muito espraiadas onde é difícil introduzir transportes públicos. De facto enquanto que um americano médio anda 70 quilómetros por dia um europeu anda menos de metade desse valor. E como o custo dessa distância duplicou muitas das casas americanas situadas mais longe do centro deixaram de ser vendáveis e perderam um valor irrecuperável.
Esta é a vantagem substancial das crises. Da crise da água na ilha Terceira e da crise da habitação nos Estados Unidos. A primeira obriga a pensarmos sobre as nossas decisões colectivas e a deixarmo-nos embasbacar menos por obras de fachada que ficam sempre bem nas maquetas. A segunda obriga os americanos a repensar o modelo de desenvolvimento das cidades que tentaram impor como o “American Way of Life”. As Torres Gémeas mostraram as suas limitações em termos de segurança. A cidade de Nova Orleãs mostrou o desastre da gestão de toda a bacia do Rio Mississipi para além da falta de gestão urbana. E o colapso do mercado habitacional avisa-nos para o erro fatal das cidades baseadas no automóvel e nos guetos e condomínios de subúrbio.
O estranho é que, tanto nos Açores como nos Estados Unidos a maior parte dos Universitários tende a pensar como o poder ficando implicitamente co-responsabilizado com os desastres que vão ocorrendo. Na Terceira terão feito os estudos de impacto ambiental disto e daquilo mas nunca vi apresentarem alternativas às soluções únicas trazidas pela falta de criatividade política. Na América, para meu espanto, num Congresso a que fui sobre urbanismos em Julho deste ano, nunca levantaram a hipótese de que a crise que têm em mãos esteja associada ao desenho das cidades. Parece que a dependência universitária dos fundos públicos está a toldar as mentes e a condicionar o espaço de liberdade que a ciência exige. Só nos resta o povo para criar a mudança inesperada pelo voto. Ou então a força da água e do custo de energia que deixa as pessoas sujas e as casas sem valor.

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