Wednesday, May 21, 2008

Liderar é arriscar

Nos próximos dias 2 a 6 de Junho vai realizar-se no Hotel Terceira Mar em Angra do Heroísmo o Curso “Liderança para o Século XXI” promovido pela Fundação Luso Americana para o Desenvolvimento e da responsabilidade da Harvard Kennedy School. Em 1999 participei num curso um pouco mais longo da Harvard Kennedy School sobre economia dos recursos naturais em Boston e gostei muito. Foi caro mas valeu a pena. Desta vez a melhor escola do mundo vai estar aqui ao lado; decidi inscrever-me no curso e estimulei outros colegas do Gabinete de Gestão e Conservação da Natureza a fazerem-no igualmente. Não é de forma nenhuma tão caro como seria em Harvard mas mesmo assim é bem diferente de alguns cursos de formação que existem pelos Açores em que os formandos recebem dinheiro e comida para estarem presentes.
Já nos mandaram o programa, um ensaio para entregarmos até ao dia 26 de Maio e um livro para lermos presumívelmente enquanto fazemos os ensaio. O livro, de Ronald A. Heifetz e Marty Linsky tem o título de “Liderança no Fio da Navalha, como manter-se vivo nos perigos da liderança”. Os três primeiros capítulos, que são aqueles que consegui ler ao fim das duas últimas tardes, trazem ideias novas que vão contra o senso comum e fazem-nos pensar sobre a nossa postura face a quem dirigimos e face à atitude de quem nos dirige.
Assinalei algumas frases destes três primeiros capítulos do livro: “O exercício da liderança pode-nos criar muitos problemas”, “O que nos é dado para liderar é o nosso conhecimento, a nossa experiência, os nossos valores, a nossa presença, o nosso coração e a nossa sabedoria”, “As pessoas que lideramos não resistem à mudança (como muitas vezes pensamos), mas resistem à perspectiva de perda”, “A traição à liderança vem muitas vezes do sítios e de pessoas que não esperamos”, “A personalização da liderança cria marginalização” e outras frases do género. Também são referidas algumas histórias de liderança. Uma em que duas índias que demoraram dez anos para fazer com que os índios da sua reserva começassem a beber menos alcool. Outra de Isaac Rabin que morreu assassinado por um israelita extremista. O erro de Martin Lutter King que se desviou do seu objectivo na luta pelos direitos humanos para contestar a guerra do Vietnam, e por aí fora. No fundo a imagem que nos dão de líderes tem mais a ver com a ideia que fazemos dos santos do que com o conceito que vamos tendo de autoridades cinzentas, agarradas ao poder, sem rasgo e sem vontade de mudarem seja o que for.
Curiosamente, ao mesmo tempo que estou a ler este livro sobre liderança, caiu na minha secretária uma publicação do Partido Socialista Regional intitulado “Açores, Ilhas de Futuro”. Foi distribuído numa espécie de Estados Gerais que se realizaram na Terceira há dias e no qual terão participado uns tantos jovens desenganados mais uns outros laranjitas com saudades do poder que sonharam enquanto jovens certamente desenganados. Se o futuro é o que que ali se apresenta não o quero nem mesmo para os socialistas ou laranginhas arrependidos que desenvolveram e acataram aquelas ideias. Primeiro porque se trata de um programa cinzento para pedir fundos à União Europeia. Depois porque não tem uma única ideia nova e não identifica um problema sério. Em suma, pegando nas ideias do livro sobre liderança, não muda nada e não arrisca coisa nenhuma. Lá estão as palavras chave que Bruxelas gosta de ouvir: o ambiente, a sociedade de informação e mais outros conceitos que o poder deturpa. Mas as acções concretas e os efeitos esperados não indiciam qualquer esperança de mudança. Só, talvez, a garantia de que, pelo menos até 2013, ainda vai chegar algum dinheirinho pela venda do mar, da terra, da localização e das gentes, que é isso afinal o que vamos tendo.
Percebe-se porquê. Nenhum dos que escreveram, assumiram ou ouviram o dito texto “Açores, Ilhas de Futuro” querem arriscar seja o que for. É pena que embora os líderes não devam ser medrosos a verdade é que os dirigentes de governos que tendem a ser ditatoriais e coloniais tendem facilmente a sê-lo. E o medo com poder é uma chatice cinzenta e amorfa que degrada as pessoas e os sítios.

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