Sunday, April 09, 2006

Editar

Para o mundo

Bill Emmott deixou de ser editor do Economist desde 31 de Março último e, como de costume, teve direito a duas páginas daquela revista global para reflectir, para se desculpar e para dar recados. Começa por expor que os objectivos da revista são o de promover o comércio livre e todas as formas de liberdade. Em nome do mercado defende a globalização e a eliminação das barreiras ao movimento de bens, de capital e de pessoas, com o que eu concordo. Em nome da defesa de todas as formas de liberdade argumenta a favor da democracia, no que tem o meu apoio, mas insiste, embora cada vez mais com mágoa e dúvida, em ser a favor das drogas leves, do aborto e da eutanásia, o que é manifestamente contra aquilo que eu e a União defendemos. De qualquer forma é uma revista com cunho e embora três quartos do que publica seja o relato de factos, um quarto da escrita é dedicada à defesa de argumentos pró ou contra alternativas de decisão política.
E é por isso que a revista se sente corresponsabilizada com a evolução do mundo, nomeadamente no que diz respeito ao desenvolvimento e à democracia. Bill Emmott relata com agrado o que foi acontecendo no mundo, desde 1993 até agora, naqueles dois aspectos: o produto per capita mundial aumentou 40% apesar da população ter crescido 18%; a pobreza reduziu-se de 1.2 mil milhões de pobres para menos de 1.0 mil milhões e espera-se que em 2015 se reduza a 650 milhões; o desemprego na OCDE baixou de 7.8% para 6.3%; e a população a viver em liberdade e democracia passou de 20% para 46% da população mundial desde 1993 até agora. É verdade que grande parte destas melhorias não resultam directamente da actuação do Economist mas o facto é que aquela revista participou, com muitos outros, nesse objectivo e alegra-se com os resultados. Mas também tem lamentos e dúvidas sobre aquilo que defendeu: quando não apoiou a intervenção na Bósnia e quando apoiou a intervenção no Iraque. E, à laia de recado, deixa alertas para o próximo editor: para que se lembre que as guerras do século XX se deram porque se parou o processo de globalização do início do século; para que não atenda à possibilidade de grupos terroristas ficarem na posse de armas de destruição maciça; e para que se atenda à propensão expansionista da China.

Para os Açores

Temos melhores exemplos de editores para além de Bill Emmott. Basta lembrar João Paulo II e as suas encíclicas, cujo impacto no mundo foi certamente mais marcante e permanente do que o daquela revista britânica.
No entanto o que importa reter neste texto é o cunho dado ao que se publica e a corresponsabilização com os resultados que se vão obtendo. Não tanto os resultados que se referem à subsistência do jornal ou da revista mas aqueles efeitos que se verificam na sociedade. Como o Economist sou pelo desenvolvimento e pela democracia. E como a administração da União tentamos ser a favor dos bem-aventurados. Queremos participar na promoção do desenvolvimento dando destaque aos seus agentes. Queremos promover a democracia e a melhoria da decisão política, questionando governos e oposições. Queremos participar na construção de um mundo mais justo e misericordioso exprimindo e expressando os gestos do amor de Deus e dos homens.
O problema é que o fazemos pouco e nos enganamos muitas vezes. Umas vezes falta-nos proximidade e vontade para dar destaque aos agentes do desenvolvimento. Outras vezes falta-nos saber e coragem para questionar os actos políticos. Muitas vezes falha-nos o desígnio e a vontade para exprimir e dar expressão aos gestos bons. Por ventura falta-nos o discernimento para entendermos os efeitos da nossa escrita.

1 Comments:

At 2:23 AM, Blogger Desambientado said...

Votos de uma Santa Páscoa Feliz.

 

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