Wednesday, October 15, 2008

Paul Krugman e a Crise Finaceira

Paul Krugman da Universidade de Princeton nos Estados Unidos ganhou o Prémio Nobel da Economia 2008, pela sua análise nos padrões de troca entre regiões e pelo sue estudo sobre a localização das actividades económicas. Na verdade trata-se de um reconhecimento pela teoria económica da importância do espaço que há muito vinha a ser levantada pelos especialistas em economia regional e geografia económica. Trata-se também de um desafio a estes últimos investigadores para integrarem mais nas suas análises os métodos e conceitos do espaço estilizado proposto por Krugman. O que o Nobel vem provar, contrariamente ao que era genericamente aceite pela teoria neoclássica do desenvolvimento, é que há razões que a geografia conhece para haver centros mais desenvolvidos e inovadores que atraem pessoas e meios, e periferias menos desenvolvidas e mais conservadoras que exportam pessoas e meios.
Como ligar esta atribuição do Prémio Nobel da Economia com a crise internacional que estamos a observar e a começar a sentir mais perto? Para responder a esta pergunta vamos primeiro tentar explicitar o que sabemos da crise para depois interpretá-la aos olhos dos dizeres de Paul Krugman e, eventualmente, explicitar alguma questão que não tenha sido explicitado pelo Nobel mas que nos apareça como agora como fundamental face aos acontecimentos financeiros recentes.
O que sabemos da crise financeira é que se verificou uma forte quebra de confiança no sistema financeiro que foi motivada por três causas fundamentais: i) Primeiro, a desvalorização efectiva de grande parte do imobiliário em virtude do aumento do preço do combustível ter desvalorizado as casas à medida que se afastam dos centros de comércio e de emprego. ii) Segundo, a perda real de competitividade do mundo ocidental face à China e à Índia o que faz associar esta crise à que existiu nos finais do século XIX quando foi necessário fazer um ajustamento brusco porque, nessa altura, a competitividade dos Estados Unidos já há algum tempo tinha suplantado a da Europa; iii) Terceiro, a incapacidade dos instrumentos de regulação dos mercados financeiros terem acompanhado a evolução destes que foi suportada pela rápida evolução das tecnologias da informação.
Há uns saudosos da intervenção do Estado, do proteccionismo, das empresas públicas e das oligarquias de funcionários, políticos, clientes e dependentes, que julgam que este é o momento para voltar para trás ou que, no caso de Portugal e dos Açores, é a altura para não seguir o que outros já assumiram há anos. No entanto estão enganados pois grande parte da falta de competitividade no ocidente e de Portugal que justificou a crise é devida à ineficiência do Estado e à falta de informação fidedigna sobre a eficiência das grandes empresas cotadas nas Bolsas. E para isso há que dar eficiência à provisão de bens e serviços públicos independentemente da escolha dos cidadãos por mais ou menos bens e serviços públicos, e há que melhorar a informação sobre a eficiência efectiva das empresas o que é muito difícil sem considerar a escala humana da proximidade e do saber, muito para além das chamadas tecnologias da informação que são potenciadoras de mentiras se não tiverem o filtro humano da proximidade e do saber. É neste aspecto que Krugman tem razão e não a tem. É que a proximidade física do anonimato das grandes cidades não tem nada a ver com a proximidade física da interacção entre pessoas que confiam umas nas outras, que manifestamente é mais difícil de encontrar nas grandes cidades. A menos que nas periferias se opte pela mentira como vem sendo hábito nos Açores.

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