Tuesday, December 16, 2008

O Estado Novo está instalado!

O Governo Regional dos Açores tomou posse por estes dias. Não há dúvida que há mudanças significativas mas essas alterações apenas confirmam, para o bem e para o mal, a forte resiliência da sociedade açoriana. Grosso modo as gentes que apoiaram e aproveitaram do consulado de Mota Amaral são as mesmas que apoiam e aproveitam do consulado de Carlos César. Pelo meio ficam as ideias consistentes que suportam modelos de desenvolvimento consequentes. Para trás fica a possibilidade de investimento no futuro já que a associação entre apoiantes e beneficiados anula qualquer sacrifício em favor de todos e dos que estão para vir. Confirma-se a mensagem de José Tomaz de Lampedusa no seu romance o Leopardo: “É preciso mudar alguma coisa para que tudo fique na mesma!”
Em Lampedusa, o Príncipe de Salina é apresentado como um herói que colabora com o fluir dos tempos para que o seu poder se mantenha na mesma. No entanto, se olharmos para o deserdado Mezzogiorno Italiano, intuímos o custo enorme da traição conivente do príncipe e interrogamo-nos sobre as razões que justificam o fortalecimento da Mafia e do subdesenvolvimento do Sul de Itália. A hipótese que levanto, e que se aplica também a Portugal, é que os países definham quando as suas supostas elites não são capazes de ao mesmo tempo promover e confrontar o fluir dos tempos, preferindo adaptar-se a esses tempos pouco temperados, para que continuem a sobre-nadar numa paz mole.
Se compararmos o consulado de Mota Amaral com o consulado de Carlos César as semelhanças são por demais evidentes. Há uma primeira fase de entusiasmo (1976/1986 para o PSD e 1996/2006 para o PS) com muita gente nova e diversa e com bons apoios do exterior. Há depois uma segunda fase de centralização com mais gente nova mas mais submissa e com menos suporte externo (1986/1996 para o PSD e 2006/201? para o PS). Até que o ciclo se esgota com o desânimo de uns tantos, se assiste à fuga do chefe tradicional e se constata morte súbita e precoce de uma geração de políticos repentinamente abandonados pelas elites mutantes. Pelo caminho ficaram algumas duas décadas de políticas desajustadas que os sistemas de poder centralizados rodeados de súbditos acabam por gerar na segunda fase dos respectivos consulados.
Olhando para o novo Governo verificamos que por razões várias desapareceram os políticos verdadeiramente socialistas. Carlos Corvelo faleceu e com a sua morte terá desaparecido o mentor ideológico do regime. Duarte Ponte foi afastado e com esse afastamento acabou o operacional da criação da economia socialista nas ilhas. A simpatia de Carlos Corvelo alegrava-se mais quando manuseava modelos de avaliação de projectos que deixavam de lado as técnicas enraizadas no pensamento neo-clássico e apresentava com gosto o modelo input-output tão útil às economias de planeamento centralizado. Por outro lado, a boa disposição de Duarte Ponte, ficava mais activa quando se sentia qual “grande timoneiro” moldando os principais sectores da economia regional: os transportes e a energia.
É verdade que considero que o modelo de desenvolvimento de Duarte Ponte e de Carlos Corvelo está profundamente errado e que tem trazido custos grandes à Região. Nomeadamente a não liberalização dos transportes aéreos e marítimos e a troca de direitos de exploração de recursos do mar e da terra por programas de apoio às despesas públicas regionais por parte da Europa. No entanto era um modelo coerente dentro da óptica socialista que defendiam. O que nos espera é o anti modelo ou, quando muito, o ajustamento tecnocrático dentro de um modelo socialista que nem se enxerga. No fundo um esquema que mantém as desigualdades sociais e não promove o desenvolvimento e o risco. O Estado Novo está instalado!

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