Tuesday, December 16, 2008

Oportunidades dos Açores na Crise Mundial

Sabemos que as crises são momentos únicos de oportunidade. É nas crises que pequenas decisões moldam grandes trajectórias que aumentam o espaço de liberdade de criar e de ser. No entanto essas trajectórias não são solitárias pois dependem e influenciam os percursos das pessoas com quem interagem. E como esta interacção é muito marcada pela geografia e pela história é salutar, para nós e para os outros, que nos preocupemos com as atitudes e os gestos dos açorianos neste momento ímpar de oportunidade.
Já percebemos que a crise financeira e económica internacional tem a ver com a desadequação da regulação monetária face ao sistema financeiro possibilitado pelas novas tecnologias da informação. Já entendemos que o colapso entre o virtual financeiro e o real económico começou pela desvalorização efectiva do imobiliário precipitada pelo aumento do preço do petróleo e possibilitada por um urbanismo baseado no automóvel. Também desconfiamos que se está a verificar um encontro brusco entre o virtual ocidental e o real das novas economias emergentes na China e na Índia.
Os impactos e as reacções à crise também começam a definir-se. Por um lado a oferta de petróleo aumentou e a procura diminuiu o que resultou numa redução do preço do petróleo para valores mais altos do que há dois anos mas mais razoáveis do que durante este ano. Por outro lado a redução abrupta da velocidade de circulação de moeda, provocada pelo crescimento da desconfiança entre agentes económicos, justificou o aumento da oferta de moeda conseguida quer pela nacionalização de bancos quer pela redução da taxa de juro dos bancos centrais.
Também nos Açores os impactos se fazem sentir. A alteração rápida dos preços dos produtos e dos factores produtivos vai influenciar fortemente a competitividade dos nossos principais bens e serviços: o preço do leite está a baixar depois de ter crescido para níveis impensáveis um ano antes; a procura turística irá provavelmente reduzir-se apesar do custo do transporte poder vir a ter um custo um pouco mais barato dentro do espaço da regulação monopolística; os bancos estão muito preocupados com a segurança de todo o sistema financeiro; e a própria administração não sabe o que a espera face a tantas incertezas.
Mas, como vos disse, é preciso aproveitar este momento único de oportunidade para reagir mudando a trajectória do desenvolvimento dos Açores. No caso dos lacticínios pode valer a pena para os actores públicos e privados da Região adquirirem as empresas da cadeia de valor que desde 1994 tem sido controlada por elementos alheios à Região: porque não adquirir essas empresas exactamente na altura onde o seu preço deve estar a preço de saldo? A única coisa que é preciso garantir é uma boa gestão mas isso também é um recurso que se adquire com facilidade. No caso do turismo vale certamente a pena liberalizar os transportes aéreos para São Miguel e para a Terceira e apostar na SATA como uma low cost a operar a partir do meio do Atlântico, entre a América e o Médio Oriente, entre a Europa e as Caraíbas e entre a África e os Estados Unidos. Quanto ao sistema financeiro não é impensável atrair para a Região os capitais certos de forma a substituir ou compensar a centralidade financeira da Suíça agora fortemente ameaçada pela quebra das bolsas internacionais onde os suíços teriam certamente muitas aplicações. Finalmente, no que respeita à administração regional, é fundamental reequacionar os investimentos em estradas que assumem que os açorianos vão adoptar a mobilidade urbana que os americanos tinham até ao momento.

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