Friday, March 31, 2006

Novo formato da União

A partir de hoje a União ( www.auniao.com )passa a ter um formato um pouco diferente. Por um lado passamos a ter menos faixas cinzentas e a nossa fita vermelha da capa passa a ser um pouco mais estreita. Por outro lado, em vez de quatro colunas de texto passa a haver seis colunas um pouco mais estreitas.
Todas estas alterações são mais complicadas de adoptar do que se supõe. Por um lado é necessário adaptar o formato do jornal e, embora sejam pequenas as modificações, a verdade é que envolveram um trabalho responsável de desenho por parte do nosso técnico Bruno Moniz. Por outro lado foi necessário decidir sobre as várias alternativas de formato. Ou se deixava ficar como estava, ou se adoptava uma das várias soluções trazidas pelos técnicos: Manter o vermelho ou arriscar o magenta, o azul ou o verde? Mudar o tipo de letra ou manter aquela que estamos habituados a ver? A opção foi não alterar o tipo de letra nem a cor e apenas modificar o formato. No fundo pretendeu-se continuar a imagem que o jornal tem desde há quatro anos embora com alguma racionalização em termos de formato.
A vantagem da redução das faixas cinzentas está em conseguir mais relevância para o texto. Esperemos que essa nova forma traga uma maior atenção do leitor pelo conteúdo e que, da nossa parte, haja um melhor cuidado na preparação de textos com interesse e com qualidade. Para além disso o retirar das faixas faz crescer o espaço para a publicidade que, esperamos, seja totalmente aproveitado pelas empresas e entidades que anunciam os seus bens e serviços. Como sabem, ao fazerem-no, aumentam também a capacidade do jornal de informar melhor os leitores.
A vantagem da passagem de quatro para seis colunas tem a ver não só com a facilidade de leitura de blocos de texto um pouco mais estreitos mas também porque seis é um número mais divisível do que quatro, como há muito tempo sabem os utilizadores do sistema hexadecimal que nos ordena as horas e os minutos. Na verdade seis colunas podem transformar-se facilmente em três, duas ou uma, enquanto que as quatro colunas só admitem, com um mínimo de estética, a transformação em duas ou uma.
Há quem pense que a forma não condiciona o conteúdo mas não é assim. Uma boa sala de aula estimula a aprendizagem, uma boa apresentação favorece a interacção, e um jornal que vai tentando melhorar o seu formato também vai criando um espaço renovado para os leitores e para os escritores. Vamos a ver se respondemos ao desafio da forma? Temos outros para lançar!

Thursday, March 30, 2006

França

O Economist refere a frase de Tocqueville: “A França é o país mais brilhante e perigoso da Europa e o mais qualificado para se tornar objecto de admiração, ódio, compaixão e terror, mas nunca de indiferença”. Se assim for vale a pena perceber o que vai ocorrendo naquele país mesmo que, de cá, o achemos longínquo e desinteressante. Como nos lembram os historiadores é de lá que vêm as revoluções que mudam tudo menos a França, é das ruas de Paris que o movimento Hippy se estrutura nas ideologias de Maio de 68 e de Pol-Pot, e é daqueles cafés que parte o movimento contra a globalização e contra o desenvolvimento da Índia e da China, que é a mesma coisa.
Do que temos a certeza é que a França continuará a ser rica e desenvolvida com mais ou menos jovens desempregados; mas uma eventual revolução pode gerar problemas em muito lado. De facto se a liberalização do mercado de trabalho se verificar, com a passagem da lei que está em contestação, é natural que haja mais empregos menos qualificados. No entanto, se a dita lei não passar e aqueles que estão nas ruas ganharem a sua “luta”, então é muito provável que os empregos não qualificados se reduzam, mas isso não terá muito impacto nos postos de trabalho qualificados que os actuais manifestantes têm acesso. Percebe-se assim a posição dos jovens das Universidades. No fundo estão a lutar contra os jovens que querem emprego menos qualificado provenientes dos arredores das cidades e que há meses se revoltaram incendiando carros e montras. Não é assim estranho que dois terços dos jovens universitários franceses queiram ser funcionários públicos com vínculo para a vida, mas é muito provável que a maior parte dos jovens dos arredores das cidades só desejem um emprego onde possam ver compensada a sua potencial produtividade.
Nesta perspectiva as manifestações destes últimos meses em França não são entre os jovens e o Governo mas sim entre os jovens dos centros das cidades e os jovens da periferia. Até agora o Governo e a polícia colocaram-se no meio mas não é difícil imaginar o dia em que os jovens dos arredores deixem e lançar o fogo aos carros e montras da periferia e optem por invadir as Universidades e Empresas do centro. A fronteira entre o mundo desenvolvido e o mundo subdesenvolvido não está só no Mar Mediterrâneo e na fronteira entre o México e os Estados Unidos. Está também na cerca das cidades europeias. E, das duas uma: ou se fazem políticas de integração interna consequentes e medidas pela globalização que promovam o desenvolvimento dos países mais pobres, ou estamos a manter pequenas barreiras que rapidamente podem ruir. Basta que os países deixem de ter verbas para pagar aos desempregados e tudo estará em causa. Por enquanto há destruição a partir da periferia e manifestação a partir do centro. Mas todos sabem e os governos sabem melhor que a situação tem que mudar apesar de os jovens universitários franceses não quererem. Em Portugal ainda vamos emigrando para outros locais e embora nos expulsem do Canada estamos moldados a integramo-nos em qualquer lado. O drama dos franceses é que só sabem viver em França e nas pequenas Franças insustentáveis que foram criando e vendo cair pelo mundo fora.

Abandono e Adesão

A Kairos identificou cerca de mil jovens açorianos que estão fora do sistemaescolar. Serão, em termos gerais, perto de quatro por cento dos jovens comidade para estarem no ensino obrigatório mas, se atendermos à incidênciageográfica do fenómeno, certamente chegaríamos à conclusão que esse facto temincidência grave em algumas freguesias.Entretanto, nas instalações universitárias de Angra do Heroísmo, multiplicam-seos cursos de formação ministrados por docentes exteriores à universidade. Sãocursos avançados de estatística e tratamento de dados. São cursos avançados desistemas de informação geográfica. No fundo são cursos que mexem com astecnologias da informação que os docentes tradicionais têm dificuldade deacompanhar e que os discentes sentem necessidade de conseguir. E é assim que osalunos se organizam, pedem uma sala de aula, estabelecem uma propina e solicitama prestação do formador disponível mais qualificado.Aparentemente são dois mundos à parte estes que ocorrem de um lado e outro domuro da Terra Chã. De um lado os alunos potenciais rejeitam um ensino oficialgratuito e obrigatório. Mais ao lado, outros alunos pouco mais velhos preferemnão assistir às aulas tradicionais que lhes são fornecidas pelo ensino públicoe optam por organizar e pagar cursos que lhes são úteis.Será dois mundos à parte? Talvez não. De facto, se procurarmos estabelecer o quehá de comum num e no outro começamos a perceber alguns dos erros do sistema deeducação que existe em Portugal, ao nível do ensino primário, secundário euniversitário. Na verdade de um lado e de outro há jovens e tanto uns como osoutros querem crescer e ter um bom emprego. Uns sentem que aquilo que aprendemnão lhes serve para muito e, não tendo alternativas, optam por abandonar oensino. Os outros também têm a noção do que o que aprendem no ensinotradicional lhes serve de pouco mas já têm capacidade para se organizarem epagarem um ensino mais útil.Deste ponto de vista o que está mal não são os jovens que abandonam o sistema deensino ou os outros que menosprezam o ensino oficial para mobilizarem um ensinoútil. O que está mal é, obviamente, o sistema de ensino que temos, que baseia asua oferta na capacidade limitada de ministrar conhecimentos consideradosinúteis para muitos alunos. É verdade que o Estado tem vindo a estabelecer viasalternativas de ensino com escolas secundárias ou profissionais e com todo otipo de cursos e universidades. Mas esquece-se de que ao lado de cada quadroestá sempre um qualquer vinculado e este está pouco interessado em aprender eministrar os ensinamentos que o aluno procura e prefere repetir a redundânciade compêndios que já estão na internet. Talvez valha a pena a Kairos fazer umoutro estudo. Por exemplo contar as histórias de sucesso dos jovens queabandonaram o sistema de ensino. Talvez essas histórias nos explicitem as boasescolas da vida.

Tuesday, March 28, 2006

Blogosfera

Hoje convidaram-me para uma entrevista na RTP-A sobre a blogosfera. Um conjunto enorme de páginas pessoais na Internet onde cada um pode colocar textos e imagens a seu belo prazer e receber comentários a esses textos e imagens. Falei com o Félix Rodrigues que, embora trabalhe aqui ao lado em Angra do Heroísmo, tem um dos dez melhores blogs do Brasil ( http://desambientado.blogspot.com/ ). E o contacto foi magnífico não só porque consegui uma série de ideias para a entrevista mas também porque rapidamente o Félix Rodrigues me criou um blog com o nome de “Homem do Porto” ( http://ohomemdoporto.blogspot.com/ ) onde irei colocando alguns dos textos que publico na União.
A característica fundamental de um Blog é que o autor é o próprio editor, ao contrário do que acontece com nos jornais, nas rádios, nas televisões e nas revistas. O espantoso é que, talvez por causa disso, os leitores parecem ter mais confiança nas notícias dadas pelos blogs do que nos factos revelados pelos órgãos de comunicação tradicionais. Certamente há blogs que têm como único leitor o próprio autor mas há outros que são um sucesso. Numas contas rápidas o Félix Rodrigues disse-nos que, em média, tem mil e duzentos leitores por cada artigo, o que é certamente muito superior à média de leitores dos artigos de opinião publicados em muitos jornais regionais e nacionais. É verdade que a tiragem dos jornais é maior da que a dos melhores blogs mas nada garante que as colunas de opinião desses jornais sejam lidas por todos os que adquirem o jornal.
Várias questões se podem colocar em torno deste fenómeno relativamente recente da sociedade da informação. Será que há concorrência ou complementaridade entre a blogosfera e a comunicação social? Se houver complementaridade como é que ela se consubstancia? Será que a blogosfera se vai estruturar em novos meios de comunicação social e se dará a passagem dos blogs mais importantes para jornais digitais? E, finalmente, qual a reacção do poder político e económico a esta nova transformação?
Comecemos pelo fim. Creio que a blogosfera não vai mudar muito. Isto porque, afinal de contas, os nossos mecanismos de decisão e poder continuam a estar na mão de quem os detém às diversas escalas. Para além do mais tudo isso é condicionado à resiliência da própria realidade. Ou seja, o que provavelmente acontecerá é que os blogs mais importantes vão passar a ser jornais digitais e que uma grande parte destes passarão a ser editados por jornais, revistas, rádios e televisões tradicionais. Ao fim e ao cabo há complementaridade entre os meios de comunicação social e a blogosfera e aquilo que não é complementar passa a ser tido como mero correio electrónico ou um grunhido escrito do messenger. É claro que a criatividade e qualidade dos jornais e das rádios poderá aumentar com a pulverização de jornalistas. Essa será, talvez, um dos principais impactos. Todos poderão ser jornalistas e a pressão passa a estar nos editores que seleccionam as notícias para os meios de comunicação de massa onde o poder se continua a rever e a ser. Talvez não seja assim mas os blogs sem o real são só blogs.

Soibada

Nenhum caminho vai dar a Soibada. Mesmo a estrada que supostamente chega até lá é cortada por um rio que impede o atravessamento de viaturas em dias mais chuvosos. A professora de português que semanalmente chega de Manatuto fica na aldeia antes do rio para dar as suas aulas a cinco quilómetros do destino que não é. De Manatuto, na costa norte, são três horas de jeep para fazer menos de quarenta quilómetros. A Natarbora, na costa sul, só é possível passar se fizermos duas horas para trás e tomarmos outro caminho para sul.
No entanto, apesar desse isolamento, Soibada é e continua a ser o centro histórico da cultura timorense. Isto apesar das inúmeras vicissitudes por que passou ao longo da história. A expulsão dos Jesuítas no tempo Marquês de Pombal, as perseguições à Igreja na sequência do liberalismo e da República, as guerras com holandeses, australianos, japoneses e indonésios, e o esquecimento estranho de muitas cooperações. Foi ali que esteve a primeira escola superior de Timor até ao fim da Segunda Guerra Mundial com um seminário e uma escola de formação de professores/catequistas. Em 2004 o Governo de Timor teve a possibilidade de celebrar o centenário daquele centro histórico da cultura timorense e assim se fez a festa e se construíram casas tradicionais de Timor, agora meio esquecidas, para receber por alguns dias o Governo e a Presidência da República de Timor.
Fui até lá no sábado de manhã numa pequena scooter. Até Manatuto a única preocupação foi o controle do combustível que tinha esgotado em Díli. Depois o percurso era mais imprevisto apesar das indicações que fui recebendo aqui e além. De cruzamento em cruzamento a estrada vai piorando e sempre subindo até Lafuliu onde havia casamento e dança. Depois o céu começa a escurecer com as nuvens da tarde e as descidas e subidas tornam-se mais pedregosas e inclinadas. Por fim chega-se ao rio, pede-se ajuda para passar com a motorizada e continua-se por mais uns quilómetros de estrada má até Soibada. Uma Igreja, a casa do padre onde fiquei alojado, um lar em funcionamento para raparigas, um espaço à espera do lar masculino, um espaço largo para futebol e basquetebol, algumas casas dispersas e o Santuário Nacional de Nossa Senhora da Airada no cimo do monte com uma escadaria à moda do Sameiro e uma vista soberba. Subia-a debaixo da simpatia do primeiro guarda-chuva. E foi lá em cima que percebi a diferença do sítio na similitude com a imagem de uma Missão dos Jesuítas no Paraguai. Cânticos magníficos e diferentes dos mais aportuguesados dos templos de Díli, a Igreja cheia, e uma homilia cheia de autoridade, força e sentido político. Depois foram nove horas de sono, um nascer do sol esplêndido, mais uma missa de Domingo, a intenção de um projecto para o lar masculino, uma promessa de aviso para a necessidade de livros e um vislumbre fugidio de mim.

Apresentação do Homem do Porto

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